quinta-feira, 23 de junho de 2011

SOLENIDADE DE CORPUS CHRISTI - O CORPO E O SANGUE DE CRISTO - Entendendo a Palavra de Deus.

EU SOU O PÃO VIVO QUE DESCEU DO CÉU.

O Evangelho de São João não tem, como os Evangelhos de São Mateus, São Marcos e São Lucas, a Instituição da Eucaristia.
Na última ceia de Jesus – que, de acordo com o Evangelho de São João, não celebra a Páscoa judaica – São João destaca apenas o Lava-Pés.
Esse detalhe é significativo e nos leva à constatação de que as comunidades primitivas ligadas a São João, nas primeiras décadas de sua existência, não celebravam como as outras a Ceia do Senhor.
O motivo parece ser este: quem permanece unido à videira e produz frutos (Jo 15) não precisa de um sinal externo e visível de comunhão com Jesus.
Com o passar do tempo, contudo, as comunidades ligadas a São João viram-se às voltas com conflitos internos (explicitados na 1Jo), sem ter como resolvê-los adequadamente.
Foi então que pediram socorro às outras comunidades daque época (ligadas a Pedro), que as socorreram, mas fizeram exigências, entre as quais a questão da Eucaristia. Note-se que, nesse tempo (final do 1º século), o Evangelho de São João ainda está em fase de redação (que durou décadas).
Além disso, notava-se já certo desleixo quanto à Ceia do Senhor, a Eucaristia.
É nessas condições que surge o trecho proposto para a liturgia de hoje. Sem falar da Instituição da Eucaristia de modo explícito, mas supondo-a, o Evangelho de São João aprofunda, na metáfora do comer a Carne e beber o Sangue, o sentido inalienável da Eucaristia.


a. Jesus é o Pão Vivo descido do Céu (v. 51)

O v. 51 funciona como eixo entre o discurso do Pão da Vida (6,31-50) e o discurso eucarístico (6,52-58). Mistura temas já abordados anteriormente (“Eu sou o pão vivo que desceu do céu” e “Quem come deste pão viverá para sempre” com o tema que será desenvolvido a seguir (a identificação do pão com a carne).
A expressão “Quem come deste pão viverá para sempre” se encontra no começo e no fim do discurso eucarístico (vv. 51 e 58), formando aquilo que os especialistas chamam de inclusão.
Nunca é demais recordar que pão é sinônimo de “dom/presente”, a prova maiúscula do Amor do Pai pela humanidade (cf. 3,16).

b. Alimento de vida eterna (vv. 52-55)

A identificação do pão com a Carne de Jesus arrepia as autoridades dos judeus. De fato, entendem materialmente o que foi dito, pensando tratar-se de canibalismo.
Há várias passagens do Antigo Testamento referindo-se a esse tema (Jr 19,9; Is 9,9; Sl 27,2; Ez 39,17), bem como à proibição de consumir sangue (Gn 9,4; Lv 17,14). Jesus não atenua, mas reforça a exigência para se ter Vida: “Se vocês não comem a Carne do Filho do Homem e não bebem o seu Sangue, não terão a vida em vocês” (v. 53).
Carne e sangue são, na cultura semita, polaridades que denotam totalidade, integralidade, como em nossa cultura usamos “carne e ossos” para expressar a totalidade da pessoa.
Comer a Carne e beber o Sangue, portanto, significa alimentar-se do Filho do Homem inteiro, sem divisões.
Sabemos que tudo o que comemos e bebemos se torna nossa carne, sangue, energias. É isso que as comunidades ligadas a São João queriam recuperar numa época de descaso para com a Eucaristia.
Comer a Carne e beber o Sangue de Jesus não é mero ato de piedade, mas uma espécie de Encarnação do Filho do Homem em nossa vida, de modo que nossas ações, palavras, sentimentos... se tornem suas ações, palavras, sentimentos... Ou, em outra perspectiva, Ele aja, Fale e Sinta em nós e por meio de nós.
Nosso organismo assimila tudo o que comemos ou bebemos.
Assimilar significa “converter em substância própria” e também “tornar-se semelhante”. As duas acepções cabem aqui e confirmam o que acaba de ser exposto. É nesse sentido que Jesus afirma: “A minha Carne é verdadeira comida e o meu Sangue é verdadeira bebida” (v. 55).


c. Comunhão com Jesus e o Pai (vv. 56-58)

É conhecida no Evangelho de São João a estreita comunhão entre Jesus e o Pai. Isso é salientado desde o começo (1,1), quando se diz que a Palavra estava junto de Deus e voltada para Deus e também, depois que se fez homem, ela continua voltada para o Pai (1,18).
Esse Evangelho tem afirmações que não existem nos outros:
“Eu e o Pai somos um” (10,30); “quem me viu, viu o Pai” (14,9) etc.
Pois bem, essa comunhão estreita e forte entre Jesus e o Pai se estende aos que comem a Carne e bebem o Sangue do Filho do Homem.
A Vida que o Pai partilha com o Filho é partilhada também com quem adere ao Filho, formando uma trindade de comunhão: “Quem come a minha Carne e bebe o meu Sangue vive em mim e eu vivo nele.
E como o Pai, que vive, me enviou, e eu vivo pelo Pai, assim aquele que Me recebe como alimento viverá por mim” (vv. 56-57).


Pe. Helder Tadeu
SCIO CUI CREDIDI - Sei em quem Acreditei.

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